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Hobsbawm(1)N. do T.: Historiador marxista muito respeitado na academia. não descreve as políticas de Lênin em detalhe, mas as resume com Novilíngua(2)N. do T.: Referência à obra 1984, de George Orwell, em que um partido tirânico controla a expressão e o pensamento criando uma nova língua em que os conceitos das palavras interessam aos propósitos do regime. Marxista. Dessa forma, ele escreve que Lênin agia em nome das ‘massas’, frente à feroz oposição da ‘burguesia’:
Ao contrário do que se diz na mitologia da Guerra Fria, que via Lênin essencialmente como um organizador de golpes, o único trunfo que ele e os bolcheviques tinham era a capacidade de reconhecer o que as massas queriam…
Eric Hobsbawm, The Age of Extremes, p. 61.
E ainda:
[S]e um partido revolucionário não tomasse o poder quando o momento e as massas chamavam por isso, como diferiria de um partido não revolucionário?
Idem, p. 63.
Hobsbawn varre para debaixo do tapete a questão de quem seriam essas ‘massas’, e se realmente clamavam pela violência que o Partido estava prestes a impor sobre elas. Ele cita a própria Novilíngua sinistra de Lênin com aprovação: “Quem — dizia ele, com frequência — poderia imaginar que a vitória do socialismo ‘só pode chegar… pela destruição completa da burguesia russa e europeia’?” E, sem qualquer pausa para considerar no que consistiria essa ‘destruição completa’, Hobsbawm dispensa todas as objeções aos métodos de Lênin como se nunca tivessem sido postos em questão:
Quem poderia dar-se ao luxo de considerar as possíveis consequências a longo prazo, para a revolução, de decisões que tinham de ser tomadas agora, ou então a revolução chegaria ao fim e não haveria nenhuma outra consequência a considerar? Um a um, os passos necessários foram dados…
Idem, p. 64.
O que os bolcheviques fizeram foi atingido através do ‘exército da emancipação humana que é impiedoso e disciplinado por necessidade’ (p. 72), e, com base nisso, Hobsbawm consegue deixar passar tudo o que Lênin de fato fez em seu caminho em direção à ‘destruição completa’ da burguesia.
E que forma estranha essa ‘emancipação’ assumiu! Já que a História marxista não se importa com coisas como a lei e o procedimento judicial, Hobsbawm não vê necessidade em mencionar o decreto de Lênin de 21 de novembro de 1917, que revogou os tribunais, a advocacia e a profissão jurídica, e deixou as pessoas sem a única proteção com que podiam contar contra a intimidação e a prisão arbitrárias.
Afinal, era apenas a burguesia, que estava em qualquer caso destinada à ‘destruição completa’, que poderia ter acesso a tribunais de justiça. O fato de que Lênin fundou a Tcheka, precursora da KGB, e deu-lhe o poder de usar todos os métodos terroristas necessários para expressar a vontade das ‘massas’ contra a de meras pessoas, não é mencionado, obviamente. Também não é mencionada a fome de 1921, a primeira de três fomes provocadas da história soviética inicial, usada por Lênin para impor a vontade ‘das massas’ aos camponeses ucranianos resistentes a serem descritos dessa forma.
Lendo essas páginas de The Age of Extremes, vi-me espantando que o livro não tenha sido condenado como tão escandaloso quanto a negação de David Irving contra o Holocausto. Mas, uma vez mais, fui forçado a reconhecer que os crimes cometidos pela esquerda não são realmente crimes, e, de qualquer modo, aqueles que inventam desculpas para eles, ou fazem vista grossa a eles em silêncio, sempre têm a melhor das intenções.
Trecho de “Fools, Frauds & Firebrands: Thinkers of the New Left” (Bloomsbury Publishing, 2015).

Tradução: Eli Vieira. Com leves adaptações.