Política

Razões Apolíticas para Odiar Política

Cartum político britânico de George Cruikshank (artista) e George Humphrey (autor). 1815. (CC) Bodleyan Libraries, University of Oxford.
Cartum político britânico de George Cruikshank (artista) e George Humphrey (autor). 1815. (CC) Bodleyan Libraries, University of Oxford.

Eu odeio política. Parte do motivo, para ser honesto, é que eu sou um libertário, e opiniões libertárias não têm quase nenhuma influência no mundo da política. Os libertários não apenas perdem toda eleição; os artífices de políticas normalmente rejeitam sumariamente nossa posição. Os libertários não apenas falham em controlar um partido com maioria; “político libertário bem sucedido” é quase um oxímoro.

Mas a derrota perene não é a única razão para eu odiar política. Refletindo a respeito, eu odiaria política mesmo se minhas opiniões se encaixassem perfeitamente, palavra a palavra, nas de Hillary Clinton ou Donald Trump. Na verdade, eu odiaria política mesmo se eu pensasse que as propostas correntes fossem o ápice da sabedoria. Por que? Porque eu odeio o jeito que as pessoas pensam sobre política, independentemente do resultado final.

Eu odeio a hipérbole da política. As pessoas deveriam falar a verdade literal e equilibrada, ou ficar em silêncio.

Eu odeio o Viés da Desejabilidade Social na política. As pessoas deveriam descrever a realidade como ela é, não bajular a ilusão confortável.

Odeio o analfabetismo matemático da política. As pessoas deveriam se focar no que é quantitativamente importante, não no que é emocionante para as massas.

Odeio a autoconfiança excessiva da política. As pessoas não deveriam fazer alegações nas quais não estão preparadas para apostar, e não deveriam declarar certeza ao menos que estejam preparadas para apostar tudo o que têm contra um centavo no contrário.

Odeio o tendenciosismo pelo próprio lado da política. As pessoas deveriam lutar para serem justas para com grupos dos quais não fazem parte, e monitorar rigorosamente seus próprios grupos, para agir contra nossa tendência humana natural de fazer o contrário.

Odeio a mentalidade de “vencer prova que eu tenho razão” da política. Vencer só prova que suas opiniões são populares, e opiniões populares frequentemente estão erradas.

Por último, mas não menos importante:

Eu odeio as desculpas que as pessoas dão para cada um dos males acima. Enquanto estou aberto a argumentos consequencialistas para causar males que vêm para o bem, a maioria dos argumentos desse tipo são profundamente contaminados pelo analfabetismo matemático e pelo excesso de autoconfiança. Se você pesa calmamente os benefícios sociais da hipérbole política, faz as contas cuidadosamente, e conclui a contragosto que ela é justificada em casos específicos, sou todo ouvidos. Mas se você defende a hipérbole com um deleite casual e indiscriminado, a vida é curta demais para lhe ouvir.

P. S.: Enquanto eu odeio o modo como as pessoas se comportam na política, eu enfaticamente não odeio as pessoas em si. A política é apenas uma pequena faceta da vida da maioria das pessoas, então os apolíticos bons normalmente superam em muito os politizados ruins.

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Publicado originalmente em EconLog, 27 de setembro de 2016.

Tradução: Eli Vieira
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Bryan Caplan
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Bryan Caplan é um economista americano e professor de economia na George Mason University. Descreve-se como um "libertário econômico". Escreveu obras como "O caso contra a educação - Por que o sistema educacional é uma perda de tempo e dinheiro" (trad. livre) e a graphic novel de não-ficção "Fronteiras abertas: a ciência e a ética da imigração" (idem).

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Biólogo geneticista, professor, tradutor.