Garotos adolescentes têm mais risco com as vacinas do que com a Covid?
Atualização do tradutor 05/10/2021:
Escrevi para a Gazeta do Povo um texto mais detalhado (link) sobre a segurança das vacinas para COVID-19 em adolescentes. Lá, explico por que o estudo citado aqui, de Hoeg e colaboradores, tem sérios problemas metodólogicos, e, portanto, a alegação de que o risco da vacina em meninos e garotos (12-17 anos) supera o risco de hospitalização por COVID-19 não deve ser aceita ou divulgada acriticamente. Acrescentei um ponto de interrogação ao título para refletir esse problema.
Por Camilla Turner1
Adolescentes do sexo masculino têm seis vezes mais chance de sofrer de problemas cardíacos depois de inoculação [com vacina de mRNA] do que de serem hospitalizados por causa do coronavírus, descobre estudo
Crianças que têm o maior risco de um "evento cardíaco adverso" são garotos com idade entre 12 e 15 anos após duas doses de uma vacina [para Covid], de acordo com uma nova pesquisa dos Estados Unidos.
As descobertas emergiram enquanto o Dr. Chris Whitty, chefe médico da Inglaterra, prepara-se para aconselhar os ministros a respeito de haver ou não um benefício amplo para a sociedade em se vacinar crianças.
Na semana passada, o Comitê Misto da Vacinação e Imunização (JCVI) publicou o seu parecer há muito esperado em que diz que a "margem de benefício" de inocular jovens de 12 a 15 anos foi "considerada muito pequena" e cita o baixo risco apresentado pelo vírus a crianças saudáveis.
No entanto, Sajid Javid, o Secretário da Saúde, disse que queria que o Dr. Whitty e os chefes médicos da Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte "considerassem a vacinação de jovens de 12 a 15 anos a partir de uma perspectiva mais ampla".
Ele disse que então "consideraria o conselho dos chefes médicos, aproveitando o conselho do JCVI, antes de tomar uma decisão em breve".
Relatório provocará novas preocupações a respeito da inoculação de crianças
Pesquisa publicada na quinta-feira provocará novas preocupações a respeito de o risco da vacina ser ou não maior que os benefícios para crianças saudáveis.
Uma equipe liderada pela Dra. Tracy Hoeg, da Universidade da Califórnia, investigou a taxa de miocardite (inflamação no coração) e dor no peito em crianças com idade entre 12 e 17 anos após a segunda dose da vacina.
Os pesquisadores compararam esse risco à probabilidade das crianças precisaram de tratamento hospitalar por causa de Covid-19, em tempos de índices de hospitalização baixos, moderados e altos.
Os cientistas descobriram que o risco de complicações cardíacas para garotos de 12 a 15 anos após a vacina era de 162,2 por milhão, que foi o mais alto entre todos os grupos investigados.
Evidências de estudos mostram que é improvável que garotos sofram de problemas cardíacos por causa da vacina ou que sejam hospitalizados por Covid.
A segunda taxa mais alta foi entre garotos de 16 a 17 anos (94 por milhão), seguidos por garotas de 16 a 17 anos (13,4 por milhão) e garotas de 12 a 15 anos (13 por milhão).
Enquanto isso, o risco de um garoto saudável precisar de tratamento hospitalar por causa da Covid-19 nos primeiros 120 dias é de 26,7 por milhão. Isso significa que o risco que eles correm de complicações cardíacas por causa da vacina é 6,1 vezes mais alto do que o risco de hospitalização por causa da doença.
Isso tem base nas taxas atuais de hospitalizações por Covid-19, que são ditas "moderadas". Durante um período de baixo risco de hospitalização, como junho de 2021, a probabilidade de complicações cardíacas aumenta para 22,8 vezes maior, e, durante um período de alto risco, como janeiro de 2021, a probabilidade de complicações cardíacas ainda é 4,2 vezes superior.
O estudo, que ainda não passou por revisão por pares, analisou relatos de efeitos adversos que crianças sofreram por causa da vacina entre janeiro e junho deste ano.
O estudou considerou apenas as vacinas de mRNA (como a da Pfizer e da Moderna), o que é especialmente relevante para a Grã-Bretanha porque os jovens não receberão a inoculação da AstraZeneca por causa de um risco maior de coágulos perigosos.
Na última sexta, o JCVI apenas recomendou que as inoculações de jovens de 12 a 15 anos fossem estendidas para incluir crianças com doenças graves do coração, pulmão, rim, fígado e neurológicas.
Mas considera-se que os ministros estejam empenhados em dar o sinal verde à vacina para as crianças, e o NHS [Serviço Nacional de Saúde] já começou a recrutar milhares de vacinadores para as escolas.
Original em The Telegraph, 9 de setembro de 2021.
Tradução: Eli Vieira
Nota do editor: o artigo citado da Dra. Hoeg pode ser encontrado aqui.
Camilla é editora educacional no jornal The Telegraph. Mora em Londres, Inglaterra, e tem artigos publicados no The Sunday Times, The Guardian e The Daily Mail.